Patrimônio demolido no Benfica
O casarão, erguido em 1898, situado na Rua Marechal Deodoro. |
Na última semana 2011 o nosso Bairro Benfica presenciou, sem nada poder fazer, um lamentável acontecimento: o casarão histórico, que veio abaixo na manhã do dia 30/12/11. A casa da chácara Flora já estava com processo iniciado de tombamento municipal.
Da Chácara Flora, na Rua Marechal Deodoro, no bairro do Benfica, erguida em 1898, só restou poeira, entulhos e muita tristeza. O casarão veio ao chão na manhã de ontem. Os tratores destruíram décadas de histórias e deixaram um vazio na memória de quem já tinha se acostumado com a paisagem, que misturava moderno e tradicional.
O último exemplar de uma típica chácara estava em processo de tombamento municipal. A própria Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), que já reconhecia a riqueza cultural do local, diz ter ficado de mãos atadas, nada pôde fazer para evitar que o crime acontecesse.
"Infelizmente, chegamos tarde demais. Entretanto, já foi lavrado autuação com valor de embargo que impede que seja feita qualquer intervenção no local, como a retirada de material. Proprietários vão ter que pagar multa e responder criminalmente", lamenta Clélia Monastério, responsável pela Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural da Secultfor. Ela informa ainda que a Procuradoria Geral do Município (PGM) irá mensurar o valor da multa e outras medidas.
A coordenadora relata também que a fiscalização da Secretaria do Meio-Ambiente e Controle Urbano (Semam) autuou o proprietário, com base no artigo 63 da lei federal 9605/98 (crimes ambientais). Na terça-feira,03/01/12 o proprietário deve prestar esclarecimentos na própria Semam.
Frustração
Conforme Clélia Monastério, o imóvel é o que restava de uma grande "vasta gleba, gradativamente subdividida" no bairro do Benfica e era propriedade de Francisco, irmão de José Barcelos - primeiro diretor da Escola Normal. Apesar do dano, a extensa vegetação parecia intacta.
A servidora pública Ieda Costa, 49, que mora em frente ao local, parecia decepcionada. Ela já não dormia há muitas noites, ficava sempre de olho, pois sabia que a ameaça de destruição estava próxima. "Um antigo inquilino, antes de ir embora, disse que o casarão iria ser destruído para virar quitinetes", diz.
E desses primeiros temores, ainda em julho, surgiu a preocupação da vizinha. Tapumes colocados nas grades denunciavam o possível crime que estava por vir. "Estávamos todos aflitos e querendo que a prefeitura tombasse logo", comenta Ieda.
A Secultfor iniciou o processo em agosto desse ano. Apesar de não estar finalizado, todas as sanções previstas já estariam, segundo o município, valendo. A gestão tem 28 bens em processo de tombamento, 13 em caráter provisório e nove definitivos.
Indignação
Romeu Duarte, professor de arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho Municipal de Patrimônio, não conteve sua chateação com o crime ocorrido às escondidas, na madrugada de ontem, uma antevéspera de feriado.
Segundo ele, a riqueza patrimonial, vinha, principalmente, do fato de a casa ser exemplar único. "A chácara é uma tipologia arquitetônica extinta. Eu pedi o tombamento por esse motivo. É uma arquitetura da passagem do século XIX. Com traços ecléticos, característica de chalé, com traços europeus que marcam o momento da expansão da cidade", diz. A área estava inscrita, segundo ele, num quadrado de três mil metros, com quatro fachadas e cercada de verde.
Entretanto, Duarte alerta que a preservação patrimonial é um grande desafio, principalmente, em uma Capital que parece vibrar com o crescimento do mercado imobiliário e ainda vê o tombamento como um entrave. Tal como se parafraseasse Caetano Veloso: "a força da grana que ergue e destrói coisas belas".
Com o patrimônio findado, a esperança do advogado de Direito da Cultura, Mário Pragmácio, é que o caso vire exemplo. "O cuidado com o patrimônio é responsabilidade do poder público e de toda sociedade que, infelizmente, ainda desconhece muito dos imóveis tombados. É preciso ações de educação patrimonial", frisa.
A reportagem tentou diversos contatos com a Construtora Douglas, atual proprietária do imóvel, mas não obteve retorno.
Da Chácara Flora, na Rua Marechal Deodoro, no bairro do Benfica, erguida em 1898, só restou poeira, entulhos e muita tristeza. O casarão veio ao chão na manhã de ontem. Os tratores destruíram décadas de histórias e deixaram um vazio na memória de quem já tinha se acostumado com a paisagem, que misturava moderno e tradicional.
O último exemplar de uma típica chácara estava em processo de tombamento municipal. A própria Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), que já reconhecia a riqueza cultural do local, diz ter ficado de mãos atadas, nada pôde fazer para evitar que o crime acontecesse.
"Infelizmente, chegamos tarde demais. Entretanto, já foi lavrado autuação com valor de embargo que impede que seja feita qualquer intervenção no local, como a retirada de material. Proprietários vão ter que pagar multa e responder criminalmente", lamenta Clélia Monastério, responsável pela Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural da Secultfor. Ela informa ainda que a Procuradoria Geral do Município (PGM) irá mensurar o valor da multa e outras medidas.
A coordenadora relata também que a fiscalização da Secretaria do Meio-Ambiente e Controle Urbano (Semam) autuou o proprietário, com base no artigo 63 da lei federal 9605/98 (crimes ambientais). Na terça-feira,03/01/12 o proprietário deve prestar esclarecimentos na própria Semam.
Frustração
Conforme Clélia Monastério, o imóvel é o que restava de uma grande "vasta gleba, gradativamente subdividida" no bairro do Benfica e era propriedade de Francisco, irmão de José Barcelos - primeiro diretor da Escola Normal. Apesar do dano, a extensa vegetação parecia intacta.
A servidora pública Ieda Costa, 49, que mora em frente ao local, parecia decepcionada. Ela já não dormia há muitas noites, ficava sempre de olho, pois sabia que a ameaça de destruição estava próxima. "Um antigo inquilino, antes de ir embora, disse que o casarão iria ser destruído para virar quitinetes", diz.
E desses primeiros temores, ainda em julho, surgiu a preocupação da vizinha. Tapumes colocados nas grades denunciavam o possível crime que estava por vir. "Estávamos todos aflitos e querendo que a prefeitura tombasse logo", comenta Ieda.
A Secultfor iniciou o processo em agosto desse ano. Apesar de não estar finalizado, todas as sanções previstas já estariam, segundo o município, valendo. A gestão tem 28 bens em processo de tombamento, 13 em caráter provisório e nove definitivos.
Indignação
Romeu Duarte, professor de arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho Municipal de Patrimônio, não conteve sua chateação com o crime ocorrido às escondidas, na madrugada de ontem, uma antevéspera de feriado.
Segundo ele, a riqueza patrimonial, vinha, principalmente, do fato de a casa ser exemplar único. "A chácara é uma tipologia arquitetônica extinta. Eu pedi o tombamento por esse motivo. É uma arquitetura da passagem do século XIX. Com traços ecléticos, característica de chalé, com traços europeus que marcam o momento da expansão da cidade", diz. A área estava inscrita, segundo ele, num quadrado de três mil metros, com quatro fachadas e cercada de verde.
Entretanto, Duarte alerta que a preservação patrimonial é um grande desafio, principalmente, em uma Capital que parece vibrar com o crescimento do mercado imobiliário e ainda vê o tombamento como um entrave. Tal como se parafraseasse Caetano Veloso: "a força da grana que ergue e destrói coisas belas".
Com o patrimônio findado, a esperança do advogado de Direito da Cultura, Mário Pragmácio, é que o caso vire exemplo. "O cuidado com o patrimônio é responsabilidade do poder público e de toda sociedade que, infelizmente, ainda desconhece muito dos imóveis tombados. É preciso ações de educação patrimonial", frisa.
A reportagem tentou diversos contatos com a Construtora Douglas, atual proprietária do imóvel, mas não obteve retorno.
Fonte: Diário do Nordeste.
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